INTERFACE SAÚDE PÚBLICA & EDUCAÇÃO:
GESTÃO, FORMAÇÃO CRÍTICA E REFLEXIVA NA PERSPECTIVA DE GÊNERO E RAÇA
PARA SEGURIDADE DOS DIREITOS E DEVERES INERENTES A SOCIEDADE E O ESTADO
No Brasil, a discriminação
racial foi historicamente construída, principalmente em função do processo
político e econômico ao qual o Brasil esteve inserido desde o século XVI, com o
regime escravocrata e sua posterior abolição que, desprovida de uma política de
inclusão social ou de reparação, contribuiu para a exclusão social dos negros
no Brasil.
Por outro lado, vivemos em
uma sociedade sexista-machista, que historicamente, desvalorizou, e ainda desvaloriza
o papel da mulher na sociedade, colocando-a, muitas vezes, em uma relação de
submissão em relação ao pai e, após o matrimônio, ao marido, desconsiderando,
inclusive, a possibilidade de relação homoafetiva, como se a mulher sempre
dependesse de uma figura masculina para supri-la.
De acordo com dados do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, no Estado do Espírito
Santo, ano de 2010, os homens possuíam uma remuneração média mensal de R$
1.562,34, enquanto as mulheres possuíam uma remuneração média mensal de R$
1.061,20 (IBGE, 2010), ou seja, no Espírito Santo os homens possuem, em média,
remuneração quase 1,5 vezes maior. Considerando as diferenças de remunerações
médias entre brancos e pretos, temos a seguinte situação: a remuneração média
mensal dos brancos foi de R$ 1.659,95, enquanto a remuneração média dos pretos
foi de R$ 940,84. Continuando a comparação por cor, tivemos as remunerações
médias dos amarelos em R$ 1.217,52, dos indígenas R$ 1.142,58 e dos pardos R$
1.029,68 (IBGE, 2010). Com base nesses dados, podemos afirmar que, no Espírito
Santo, os brancos tem uma remuneração média 1,8 vezes maior que os pretos, ou
seja, quase o dobro das remunerações médias.
PARA COMPLEMENTAR A
DISCUSSÃO ASSISTA AO CURTA-METRAGEM BRASILEIRO “O XADREZ DAS CORES”, DE 2004, DO DIRETOR MARCOS SCHIAVON, COM O
ELENCO DE ZEZEH BARBOSA, MIRIAM PIRES E ANSELMO VASCONCELOS.
Segundo dicionário on line de português a palavra DISCRIMINAR - DIS. CRI. MI. NAR significa:
"v.t.d e
v.bit. Aperceber-se das diferenças; discernir.
v.t.d. Classificar tendo em conta algum motivo específico; listar.
v.t e v.pron. Construir um grupo (distinto) para não se misturar aos demais;
distinguir-se por possuir algum tipo de preconceito étnico, religioso, sexual
etc.
P.ext. Tratar de forma injusta; tratar de forma desigual, uma pessoa ou um
grupo de pessoas, por motivos relacionados às suas características pessoais
específicas (cor de pele, nível social, religião, sexualidade etc) (Etm. do latim: discriminare)"
( Dicionário On line de Português, Acesso em 17 de julho de 2014, 08:45h.
Quando levamos para a discussão da discriminação racial, podemos chegar a conclusão que é um tratamento de modo preferencial e geralmente causa prejuízo para uma das partes. O tema central do filme - O XADREZ DAS CORES, esta enquadrado neste contexto, quando Cida precisa se sujeitar à situações humilhantes realizadas por sua patroa que é branca e racista, para assim conseguir dinheiro e garantir sua sobrevivência.
Ao olharmos para nossa formação escolar, as versões conflituosas nos livros argumentavam que os negros foram trazidos e aceitaram a condição sub humana a qual foram submetidos de forma natural. Assim os vários disparates conceituais do Ensino Formal Brasileiro mostra este processo histórico como algo habitual, parecendo que os negros nasceram para este tipo de tratamento. Também é correto pensar que na atualidade o ensino da disciplina de História avançou e,
"assim as atividades propostas em sala de aula precisam buscar uma visão mais contextualizada e menos romanceada da participação dos negros na História e os reflexos dessa construção histórica nos dias atuais. "
(PRADO. p. 02/03 - Acesso em 17 de julho de 2014, 09:18h.
Seguindo este caminho podemos lutar por uma sociedade que enxerga o negro com cidadão e possui direitos e deveres, mas estes projetos existem apenas na forma de Leis, na prática o que realmente existe é muita injustiça nos aspectos de gênero e raça no país.
Este filme tem vários momentos que causam incômodo, devido as tensões entre os personagens, a forma que o enredo foi construído nos convida a refletir e posicionar-se diante da tela com opiniões e argumentos que discutem as relações socais da vida doméstica e cotidiana. Assim o autor faz que façamos parte do jogo entre patroa e empregada. Quando pensamos sobre a referência ao jogo de xadrez podemos concluir que as questões apresentadas necessitam de raciocínio lógico e entender o preconceito em suas raízes.
No que tange as relações harmônicas e desarmônicas dos personagens do filme, é notório que cada um apresenta um determinado tipo e dialética, o rico e o pobre, o branco e o negro, a patroa e a empregada.É visível que as relações existentes são contraditórias e utilizam a força para determinar quem tem poder, enquanto a patroa Maria oprime a empregada Cida, esta utiliza o tabuleiro de xadrez como referência para conhecer a oponente e ao ver suas peças negras serem jogadas foras, não se satisfaz com a situação e estuda a patroa, ao buscar conhecimento Cida vai lutando contra o conformismo e realiza de forma concreta a transformação dos fatos de forma favorável.
O GRUPO 04, do Curso de Formação de Gestão de Politicas Públicas em Gênero e Raça, da UFES - Polo Santa Teresa tem como tema central deste blogfólio discutir o GÊNERO E DIVERSIDADE: DESAFIOS PARA A EDUCAÇÃO FORMAL, convida os educadores para assistirem o filme e provocar um debate em sala de aula.
"É no confronte de idéias que a escola pode tentar garantir o espaço da diversidade e respeito."
(PRADO. p. 04 - Acesso em 17 de julho de 2014, 09:18h.
Este espaço é destinado para oferecer informações sobre o que acontece em relação às políticas públicas de apoio e formação em nosso estado, como também uma fonte de denuncia.
Por Rúdio Krauser, Assistente Social de Cariacica
Esta reportagem foi publicada na Folha Vitória, em 30/05/2014, às 20:30h. Vem discutir o tema racismo na instituição escolar, no bairro de Vila Rica, município de Cariacica.
Redação TV Vitória
A família de um adolescente
de 13 anos acusa a professora de uma escola municipal do bairro Vila Rica, em
Cariacica, de humilhar o jovem. O caso aconteceu na última quarta-feira (28), e
por causa do trauma, tanto ele quanto o irmão não voltaram mais ao local. De
acordo com a vítima, a educadora o chamou de “preto feio”.
O adolescente afirma que
passou pelo maior constrangimento da vida dele depois que foi tirado da sala
com o irmão, por conversar durante a aula. “Eu fiquei no corredor e meu amigo
foi beber água. Quando ele voltou, eu fui brincar com ele segurando a camisa.
Quando ele pediu para eu o deixar passar a professora me mandou sentar e disse: "seu preto feio. Você pensa que é bonito? Nunca se olhou no espelho”, conta o
menino.
Momentos antes de ir embora,
afirma o estudante, a professora ainda tentou consertar o erro. “Ela disse para
eu ir à sala dela para tomar água e conversar, mas eu não quis. Eu disse que
queria ir embora para minha casa, porque estava na hora”, afirma o jovem.
Ao chegar em casa o jovem
contou à mãe, aos prantos, o que havia acontecido. “Na hora eu só pensei em ir
à escola conversar com ela. Mas depois eu pensei e no outro dia fui procurar os
meus direitos. Ela nunca mais vai fazer isso com mais ninguém”, destacou a mãe
do adolescente, que é auxiliar de serviços gerais.
A mãe do adolescente
registrou um boletim de ocorrência e contratou advogado. O crime de racismo é
inafiançável, e segundo Wesley Celestrino, a professora pode pegar até quatro
anos de prisão, ser afastada do cargo, além de ter que pagar indenização à
família da vítima. “Ela vai responder criminalmente pelos atos, vai ter direito
de defesa, mas a Justiça deve ficar do lado da família”, apontou o advogado.
A Secretaria Municipal de
Educação de Cariacica informou que está investigando o caso. Segundo a
secretaria, a mãe das crianças foi chamada para esclarecimentos, mas não
compareceu. A secretaria informou ainda que todo o apoio psicológico e
pedagógico da prefeitura estão à disposição deste aluno.
Este artigo vem discutir os parâmetros da Lei 10.369 e o planejamento das ações de combate ao racismo realizadas pelo Sindicato.
Por Marilda Rocha 27/05/2014
O SINDIUPES retomou as
discussões para reestruturação do Coletivo de Combate a Racismo. No último
sábado, o Sindicato fez uma reunião de planejamento para discutir alguns temas
pertinentes e
Ações que podem ser implementadas ainda em 2014.
A reunião aconteceu no auditório da entidade e contou com a participação de
representantes de instituições do Estado que militam nessa área.
Para embasar a discussão:
O Presidente do INSPIR (Instituto Sindical
Interamericano Pela Igualdade Racial), Ramatis Jacino falou sobre a Lei nº
10.693, sancionada em 09/01/2003.
Essa Lei alteração em
dispositivos da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394,
de 20/12/1996). De acordo com o novo texto, os estudos de história e cultura
afro-brasileira devem ser ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, de
forma a resgatar a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e
política brasileira. A obrigatoriedade se estende aos estabelecimentos de
ensino fundamental e médio e também institui o dia 20 de novembro como Dia
Nacional da Consciência Negra.
Brasília, 29 de novembro – O
Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), em parceria com a Secretaria
de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), lançou hoje, no
auditório do Ministério da Educação, às 9h30, a campanha nacional sobre o
impacto do racismo na infância. A iniciativa tem o slogan Por uma infância sem
racismo.
O evento contou com a
participação do secretário de políticas de ações afirmativas da Seppir, Martius
Antonio Alves das Chagas; da secretária nacional de promoção dos direitos da
criança e do adolescente da Secretaria de Direitos Humanos (SDH), Carmen de
Oliveira; do secretário de educação continuada, alfabetização e diversidade do
Ministério da Educação (MEC), André Lázaro; e da representante do UNICEF no
Brasil, Marie-Pierre Poirier.
Além das autoridades, o
evento teve a participação de representantes de movimentos negros e indígenas e
de adolescentes de escolas públicas do Distrito Federal.
Para o UNICEF, a
discriminação racial não apenas persiste no cotidiano das crianças no Brasil,
como também se reflete nos números da desigualdade entre negros, indígenas e
brancos. Com a campanha, o UNICEF quer fazer um alerta sobre a necessidade da
quebra do círculo vicioso do racismo para, dessa forma, estimular a criação e o
fortalecimento de políticas públicas voltadas para as populações mais
vulneráveis.
A campanha, lançada como
parte da celebração dos 60 anos de atuação do UNICEF no Brasil, tem como
objetivo mobilizar a sociedade brasileira para a necessidade de assegurar a
equidade e a igualdade étnico-racial desde a infância. Para o UNICEF, o combate
ao racismo implica valorizar as diferenças, promovendo a igualdade de
tratamento e oportunidades para cada menina e menino no Brasil, o que ainda
representa um grande desafio para o País. Assim busca-se contribuir com o
debate nacional sobre direitos da infância e adolescência, envolvendo cada
segmento da sociedade no esforço do combate ao racismo a partir do
reconhecimento de sua existência.
Você encontrará mapa da Lei, Informações Técnicas sobre a campanha, as 10 maneiras para contribuir por uma infância sem racismo, o Dique Racismo (156 - opção 7), Depoimentos, Legislação e Mensagem do Embaixador.
Portal GDF. Secretaria de Estado da Criança do Distrito Federal. Vídeo "Por uma infância sem racismo". Publicado em 29 de novembro de 2010. Acesso em 14 de julho de 2014, às 13:00h. Disponível em: http://www.crianca.df.gov.br/component/content/article/321.html.
Sabe-se o quanto a cultura
proveniente dos povos africanos que para cá vieram ajudaram construir a cultura
atual do nosso país, tal como afirma Heilborn (2010, p.86) que menciona que “a Feijoada,
a capoeira e o samba, antes vistos como manifestações culturais inferiores
devido a sua origem negro-mestiça, passam a representar o que haveria de mais
brasileiro”.
Tal cultura negra adotada
não se resume apenas aos três aspectos citados por Heilborn, mas a partes de
nossa cultura, que algumas pessoas não relacionam com a história de escravidão
vivenciada pelos negros. Aspectos estes que hoje estão assumidamente
impregnados na cultura brasileira, sendo vivenciada por todas as raças
existentes em nosso país.
Um desses aspectos
interessantes de ser citado, é em relação a influência musical. Um estilo
musical muito apreciado por nós brasileiros é conhecida como Black Music
(Música Negra), que abrange Jazz, Blues, Rap, Hip Hop, Samba, Bossa Nova, Soul,
entre outras.
O município de Santa Teresa,
apesar de ter em sua cultura forte
influência italiana, devido a sua colonização de ser composta da maioria de sua
população branca, também possui um pouco de suas raízes e cultura inspiradas na
cultura negra, uma vez que o munícipio é conhecido também como a terra do Jazz
e do Blues.
Tal fama, é provém de um
festival que ocorre no município por três anos consecutivos, o Festival Internacional de Jazz & Bossa de Santa
Teresa, trazendo ícones da musica internacional e nacional do estilo. No ano de
2014, o Festival ocorreu de 06 a 08 de junho, sendo uma realização da
Prefeitura de Santa Teresa, Governo do Estado por meio da Secretaria de Turismo
e Faculdade de Música do Espírito Santo (Fames).
O Jazz é uma manifestação artístico-musical
proveniente dos Estados Unidos, trazendo a tona um pouco da cultura negra, uma
vez que que os africanos escravizados, trouxeram fortes tradições da musica
tribal, o que teve forte influência no surgimento desse estilo musical. Já o Blues,
também é de origem africana e nos Estados Unidos está ligada as raízes levadas
pelos escravos, que usavam o canto, para embalar suas intermináveis e sofridas
jornadas de trabalho, as quais são uma das origens dos "blues".
A bossa nova é um movimento
da música popular brasileira, inspirado no Jazz e no samba, que surgiu no final
dos anos 50, por compositores de classe média da zona sul carioca.
O gosto musical da população
assim como outros aspectos, representa o quanto a cultura negra/africana está enraizada
ao que temos como nossa cultura. Não apenas a cultura negra representa o que há
de mais brasileiro, mas sim a mesclagem de todas as culturas que fizeram parte
da história desse país, que acaba por se configurar como uma identidade
brasileira.
O munícipio de Santa Teresa,
mesmo tendo uma colonização predominantemente italiana, também apresenta um
histórico de escravidão e racismo em sua história, bem como histórico de lutas
pela liberdade desses escravos, tal qual o que ocorreu em grande parte de nosso
país.
Em matéria, o Jornal A
Tribuna, baseado no livro São Roque do Canaã – Uma história de Fé, Trabalho e
Vitórias, conta um pouco dessa história de luta no município. Essa é a história
de José Calhau que ocorreu em 1898, tropeiro, mascate e jagunço mineiro que
lutou para pôr fim a tirania de José Luiz Vivaldi, imigrante italiano, militar
que odiava os negros.
Vivaldi, nomeado Capitão da
Terceira Companhia do Quinto Batalhão de Infantaria da Guarda Nacional, em 1893,
sendo responsável pela região de Cachoeira de Santa Leopoldina, implementou seu
domínio militar caracterizado por sua hostilidade e terror, torturando os
negros da comunidade de São João Petrópolis, no município de Santa Teresa,
tendo decidido não cumprir a Lei Áurea assinada em maio de 1988, pela Princesa
Isabel.
Capitão José Luiz Vivaldi reprodução de família
José Calhau, tendo
conhecimento dos horrores cometidos por Vivaldi, decidira pôr fim a tirania de
Vivaldi, preparando seu bando, de 30 homens, para o ataque. O plano chegou aos
ouvidos de Vivaldi, que colocou sua milícia de 36 homens de plantão – o
Batalhão 36. Sabendo disso, José Calhau espalhara o boato de que desistiria do
ataque.
Dessa forma, em 02 de
novembro de 1898, Calhau e seu bando invadiram o Barracão de Petrópolis, dando
fim a tirania de Vivaldi, que fora espancado e apunhalado diversas vezes, sendo
tratado da mesma maneira que tratava os negros. Calhau ateara fogo no sobrado
de Vivaldi, sendo este salvo por homens sobreviventes de sua milícia, sendo
levado para uma gruta, perto de onde está localizada a Escola Agropecuária
Federal de Santa Teresa, onde recebeu atendimento médico e se recuperou. Porém,
ficou com uma sequela no braço direito. O capitão morreu em 9 de novembro de
1939, aos 83 anos. Seus restos mortais estão hoje em um túmulo simples no
cemitério de São João de Petrópolis.
Através dessa história,
podemos conhecer um pouco do contexto em relação a escravidão, não apenas no
Espírito Santo, mas principalmente no município de Santa Teresa, bem como as questões de discriminação pós-abolicionista.
Por Joyce Minchio
Pesquisas na Comunidade Pólo - Santa Teresa / ES
Casos de Discriminação e Preconceito Racial
Referências
Fonte: Matéria em A Tribuna,
baseada no livro São Roque do Canaã – Uma história de Fé, Trabalho e Vitórias,
de Luiz Carlos Biasutti e Arlindo Loss. – 16/11/2008
SEM
MAIORES COMENTÁRIOS, ESTES ARTIGOS SERVEM PARA ENXERGARMOS OS VÁRIOS LADOS DA
MOEDA E OS EXAGEROS COMETIDOS EM NOME DO FUTEBOL.
Com o Título – ZUÑIGA, NEGRO E LATINO-AMERICANO, esta
matéria foi escrita por Sylvia Colombo, jornalista brasileira, correspondente internacional
do Jornal O Folha de São Paulo. Esta matéria vem promover uma reflexão sobre
como usamos as redes sociais para promover atitudes racistas e como palavras podem
causar vários tipos de violências. Está disponível em http://sylviacolombo.blogfolha.uol.com.br/2014/07/07/zuniga-negro-e-latino-americano/
POR SYLVIA COLOMBO
Não vou entrar no mérito da
seriedade da falta que Camilo Zuñiga fez em Neymar. Estamos todos tristes
com a ausência do ídolo nesta fase final da Copa do Mundo. Mas é fato que a
FIFA estudou as imagens e disse não ter havido deslealdade. Além disso, Zuñiga
pediu desculpas. Repito, Zuñiga pediu desculpas.
Cegos de ódio e revelando
intolerância, internautas brasileiros de diferentes origens e vertentes –e me
espantei com a quantidade deles que está no meu círculo de amigos nas redes
sociais– saíram a incitar a violência e exibir com pompa seu preconceito.
Estava em Bogotá nos últimos
dias, e acompanhei a reação da mídia e da sociedade colombianas, espantadas e
surpreendidas com a agressividade dos brasileiros na rede contra Zuñiga. As
mensagens de ódio incluíam, nada menos, convocações para um estupro coletivo da
filhinha do jogador, também o de sua mulher e, para coroar, um linchamento real
de toda a família _para quem duvida que incitações a linchamentos virtuais se
transformam em linchamentos reais, lembrem-se da mulher assassinada no Guarujá.
Até o endereço do jogador,
em Nápoles, foi descoberto por um desses boçais e publicado na rede, sugerindo
uma ação coletiva para assassina-lo. Isso mesmo, para assassina-lo.
“Ódio aos colombianos”, “só servem para
produzir cocaína” e “negro filho da puta” foram alguns dos impropérios que li
nas redes nos últimos dias. Morro de vergonha de dizer que muitos foram ditos
por colegas de profissão ou conhecidos, pessoas ditas “esclarecidas” e com
seguidores.
Será que se a mesma falta
fosse cometida por um ídolo europeu qualquer a reação seria a mesma? Ou será
que se destapou uma panela que está sempre fervendo, a do desdém ignorante
brasileiro com relação ao resto da América Latina? Arrasta-se por estas terras
que se consideram abençoadas por um “Deus brasileiro” um preconceito que vem da
elite imperial do século 19, aquela que considerava o Brasil um país branco,
uma parte da Europa e que via do outro lado das nossas fronteiras uma terra de
anarquia e barbárie. Mesmo sentimento que identifica a América Latina como
sinônimo de algo folclórico e primitivo, mas que serve de destino turístico
para explorar prostitutas nativas carnudas ou para comprar artesanato exótico.
Parece que um montão de
gente está vendo na Copa do Mundo uma desculpa para soltar sua verdadeira
essência brucutu, machista, racista e, nesse caso, latinofóbica. Obviamente,
reclamam da “patrulha do politicamente correto”.
“Ah, quer dizer que não
posso xingar a presidente (mulher) de vaca? Ou publicar uma montagem que mostre
o Fred como um aleijado? Ou dizer que argentino é fedido? Ou chamar um negro de
‘filho da puta’? Ou colombiano de criminoso? No futebol sempre pôde, então vou
me soltar um pouquinho…”, pensam eles. Natural, não? Imagino que seja mesmo
difícil se fingirem de civilizados todos os dias do ano: respeitar mulheres,
não soltar cantadas intimidatórias, não xingar negros, gays, asiáticos e
latino-americanos. É pedir demais, parece. Segundo sua lógica, o futebol,
afinal, sempre foi cheio desse tipo de ofensa, porque não aproveitar um
pouquinho, se soltar, relaxar e ser bem escroto?
Só que não, não é “tudo bem”
agir assim, nem que seja “só de brincadeirinha, só porque é futebol”. Os
comportamentos violentos nascem desse tipo de raciocínio e modo de ver o mundo.
As injustiças sociais e raciais no Brasil se perpetuam por conta disso. Assim
como o modo como estereotipamos, ridicularizamos e insultamos nossos vizinhos.
TORCEDORES USAM XINGAMENTOS RACISTAS PARA CRITICAR ZÚÑIGA
No espaço da Extra.globo.com mostra como a vida do lateral colombiano
virou de cabeça pra baixo com as atitudes racistas e violentas do torcedores
brasileiros. Reportagem publicada no dia 05/07/2014, 19:26, apresentando partes
dos vários xingamentos e também a defesa de algumas pessoas da sociedade
brasileira.
A vida do lateral Camilo
Zúñiga, jogador colombiano responsável pela falta que provocou a lesão em
Neymar, não está sendo fácil. Logo após o jogo, suas contas em redes sociais
receberam uma enxurrada de críticas e xingamentos de torcedores da seleção
brasileira. Boa parte das mensagens destinadas ao jogador são de conteúdo
racista. No Twitter, a palavra mais usada para se referir a Zúñiga foi
‘macaco’, em uma clara tentativa de ofender e diminuir o jogador.
“Aquele macaco daquele
jogador colombiano merece sofrer pro resto da vida dele”, escreveu uma usuária.
“Tudo um bando de macaco esses jogador da colômbia”, compartilhou outra.
Até para pedir uma punição
ao jogador, foi usado conteúdo racista. “Espero que esse macaco da Colômbia
sofra uma punição”. “Copa sem Neymar. Raiva desse macaco da Colômbia”,
escreveram outros dois brasileiros.
APESAR DO RACISMO DE BOA PARTE DA
TORCIDA BRASILEIRA, RAPIDAMENTE O
COMPORTAMENTO PRECONCEITUOSO TAMBÉM
COMEÇOU A RECEBER CRÍTICAS.
Usuários
lembraram o caso do jogador Daniel Alves, atingido por bananas durante um jogo
pelo Barcelona, que resultou na campanha #somostodosmacacos, uma ação
brasileira para pedir o fim do racismo nos estádios.
No início da partida entre
Brasil e Colômbia, um anúncio da campanha #SayNoToRacism (#DigaNãoAoracismo)
foi lido pelos capitães das duas seleções, Thiago Silva e Mario Yepes.
No espaço ESPORETE < COPA,
a Empresa Brasil de Comunicação (EBC), a WWW.ebc.com.br
com o objetivo de regulamentar o direito constitucional de amplo acesso dos
cidadãos às informações dos órgãos públicos, traz uma reportagem com argumentos
e informações que nos levam a refletir como as redes sociais, podem promover e
sustentar violências e práticas racistas, reportagem feita por Lílian Beraldo,
publicada em 07/08/2014, às 09:11h.
Logo após a notícia de que o atacante Neymar ficaria fora da Copa do mundo devido à
lesão sofrida durante o jogo do Brasil contra a Colômbia, na última sexta-feira
(4), o jogador Camilo Zuñiga, que alegou que a agressão contra o brasileiro não foi proposital, passou
a sofrer ameaças e a ser alvo de comentários preconceituosos nas redes sociais.
Em alguns desses comentários, ele chega a ser ameaçado de morte.
No Twitter, ao digitar
“Zuñiga” aparece automaticamente como termo associado a palavra preto. Os
comentários, de evidente preconceito racial, classificam o jogador de “preto
desgraçado” e o comparam a “macaco”, “bandido” e “assassino”.
E não apenas o jogador é
agredido. Em uma postagem no Instagram, a Colômbia é chamada de “país da
cocaína”. Em várias fotos da família de Zuñiga, multiplicam-se comentários
ofensivos. Na foto em que a filha pequena do atleta aparece ao lado da frase
“Papi, te amo”, escrita na areia, o jogador é chamado de “animal”. A criança é
ameaçada e chamada de “puta”: “Menina vai ser estuprada”.
Integrante do Instituto
Mídia Étnica, Paulo Rogério critica a postura dos internautas e destaca que a
situação evidencia o racismo da sociedade brasileira. “A situação de racismo,
principalmente no Brasil, onde temos uma falsa ideia de democracia racial, é
quebrada no momento em que há uma tensão, como naquele jogo”, afirma Rogério,
relembrando a partida que terminou com a lesão de Neymar.
Ele destaca, contudo, que
esta não foi a única demonstração de racismo vivenciada no Mundial. “A Copa do
Mundo tem mostrado que esse é um assunto de grande importância porque os casos
de racismo são cotidianos, seja esse caso mais recente contra o jogador colombiano,
no caso dos espanhóis, que chamaram brasileiros de macacos, e em vários casos
de xenofobia”, diz o publicitário, que trabalha no acompanhamento da cobertura
da mídia em relação à questão racial.
Se atos de preconceitos não
são novos, um elemento ajuda as agressões a ganharem forma e a se proliferarem:
as redes sociais. “Muitas vezes, o anonimato e a possibilidade de fala livre
faz com que as pessoas se sintam mais à vontade para falar o que pensam. Tem um
lado positivo, da ampliação da comunicação, mas também negativo, de uma série
de violações de direitos humanos que a gente vê cotidianamente”, alerta.
O advogado da organização
Geledés – Instituto da Mulher Negra, Rodnei Jericó, lembra que casos de racismo
são cotidianos. “Hoje a mídia tem pautado, mas esse tipo de situação sempre
existiu”, destaca. O advogado pondera, contudo, que a exposição dos casos pode
contribuir para a conscientização e também para a responsabilização judicial.
Nas redes sociais não são
encontrados apenas comentários racistas relacionados ao caso. Em muitas
postagens, internautas criticam a postura preconceituosa dos demais, pedem
cuidado e alertam que se trata apenas de um jogo de futebol. Outros cobram que
os jogadores brasileiros se manifestem sobre as agressões, a fim de amenizar a
situação. Diferentemente da campanha “#somostodosmacacos”, lançada pelo próprio Neymar,
em abril, após Daniel Alves ter reagido a um comentário racista na Europa,
ainda há poucas manifestações de personalidades na situação que envolve o
colombiano.
Até agora, a Confederação
Brasileira de Futebol (CBF) e a Federação Internacional de Futebol (Fifa), que
antes do início da Copa do Mundo lançou a campanha #SayNoToRacism
(#DigaNãoAoRacismo, em português), também não se manifestaram oficialmente
sobre o caso.
O procurador federal dos
Direitos do Cidadão, Aurélio Rios, alerta que os comentários racistas podem
terminar na Justiça, já que racismo é crime tipificado no Artigo 20 da Lei
7.716/89, com pena de um a três anos de prisão. “Isso não tem a ver com
liberdade de expressão. É absolutamente inaceitável qualquer discurso de ódio e
violência”, afirma o procurador, que destaca que as pessoas que proferiram os
comentários podem ser denunciadas judicialmente.
Rios avalia que o fenômeno
da internet abriu a porta para um grupo que “estava adormecido e se sente à
vontade, até porque o anonimato da rede facilita que haja essas intervenções”.
O fato de o possível crime ser cometido na rede pode agravá-lo. Isso porque, de
acordo com a legislação em vigor, a pena prevista é de dois a cinco anos de
prisão e multa, quando o crime ocorre por meio de veículos de comunicação.
Aqueles que ameaçaram o
jogador também podem ser incriminados, já que o crime de ameaça é abstrato,
isto é, a ameaça não precisa ser confirmada em ato para que seja considerada
crime, segundo explica o procurador.
Até agora, a procuradoria
não registrou ações impetradas sobre esse caso, mas é possível que o Ministério
Público atue na identificação da origem das agressões e, a partir da
investigação dos fatos, dê início a um processo criminal. Foi o que ocorreu em
2010, quando uma estudante de direito, ao comentar o resultado das eleições
presidenciais, escreveu no Twitter que "Nordestino não é gente. Faça um
favor a SP: mate um nordestino afogado!". Menos de dois anos depois, ela
foi condenada a um ano, cinco meses e 15 dias de prisão pelo crime de racismo.
“A pessoa tem o direito de,
dentro de determinados limites, defender as suas ideias, desde que não ofenda a
dignidade de outras pessoas, sobretudo de grupos vulneráveis”, alerta o
procurador, que lamenta que, em uma Copa do Mundo que teve a luta contra o
racismo como tema, expressões desse teor ainda sejam verificadas.
O governo federal traçou a
meta de fazer uma Copa sem racismo e estimulou a exibição de faixas, nas
partidas, bem como o desenvolvimento de políticas locais de combate ao
preconceito.
No Distrito Federal (DF) e na Bahia, por exemplo, as secretarias de Promoção da Igualdade Racial fizeram campanhas específicas sobre o tema. No DF, cinco postos da campanha “Copa sem racismo” foram montados nas rodoviárias, no aeroporto e em lugares turísticos. “Para poder conscientizar as pessoas que estão vindo sobre a legislação do Brasil e também divulgar o nosso programa, o Disque Racismo”, disse à Agência Brasil o secretário especial da Promoção da Igualdade Racial do DF, Viridiano Custódio.
Na Bahia, a coordenadora-executiva de Promoção da Igualdade, Trícia Calmon, disse que o Centro de Referência de Combate ao Racismo e à Intolerância Religiosa também ficou disponível para o recebimento de denúncias. Além disso, a secretaria fez uma cartilha para informar sobre a legislação brasileira, material que tem sido distribuído em pontos de grande movimentação.
Até agora, contudo, esses equipamentos, tanto no DF quanto na Bahia, não receberam uma denúncia sequer. O descompasso entre o que se vê nas redes e o que se vê nos órgãos é explicado por Custódio como fruto da falta de informação.
Para Trícia, o reduzido número de denúncias do crime de racismo se deve ao “fato de [o racismo] ser muito banalizado e [de haver] a descrença no Judiciário, por conta de morosidade ou porque o sistema tem demorado ou não dado respostas satisfatórias nesses casos”.
DIRETO DA FONTE
GOVERNO DISCUTE AÇÕES PARA ENFRENTAR RACISMO NA COPA DO MUNDO
MARÇO DE 2014 - LUIZA BAIRROS
Ministra-chefe de Secretaria de Políticas de Promoção de Igualdade Racial
BAIRROS. Luiza – Ministra –chefe
da Secretaria de Políticas de Promoção de Igualdade racial. DIRETO DA FONTE: Governo discute ações para
enfrentar racismo na Copa do Mundo. Vídeo do Conselho Nacional de Justiça.
Publicado em 13 de março de 2014. Acesso em 10 de junho de 2014, às 09:55h.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=vBk5LwGuBJc