SEM MAIORES COMENTÁRIOS, ESTES ARTIGOS SERVEM PARA ENXERGARMOS OS VÁRIOS LADOS DA MOEDA E OS EXAGEROS COMETIDOS EM NOME DO FUTEBOL.
Com o Título – ZUÑIGA, NEGRO E LATINO-AMERICANO, esta
matéria foi escrita por Sylvia Colombo, jornalista brasileira, correspondente internacional
do Jornal O Folha de São Paulo. Esta matéria vem promover uma reflexão sobre
como usamos as redes sociais para promover atitudes racistas e como palavras podem
causar vários tipos de violências. Está disponível em http://sylviacolombo.blogfolha.uol.com.br/2014/07/07/zuniga-negro-e-latino-americano/
POR SYLVIA COLOMBO
Não vou entrar no mérito da
seriedade da falta que Camilo Zuñiga fez em Neymar. Estamos todos tristes
com a ausência do ídolo nesta fase final da Copa do Mundo. Mas é fato que a
FIFA estudou as imagens e disse não ter havido deslealdade. Além disso, Zuñiga
pediu desculpas. Repito, Zuñiga pediu desculpas.
Cegos de ódio e revelando
intolerância, internautas brasileiros de diferentes origens e vertentes –e me
espantei com a quantidade deles que está no meu círculo de amigos nas redes
sociais– saíram a incitar a violência e exibir com pompa seu preconceito.
Estava em Bogotá nos últimos
dias, e acompanhei a reação da mídia e da sociedade colombianas, espantadas e
surpreendidas com a agressividade dos brasileiros na rede contra Zuñiga. As
mensagens de ódio incluíam, nada menos, convocações para um estupro coletivo da
filhinha do jogador, também o de sua mulher e, para coroar, um linchamento real
de toda a família _para quem duvida que incitações a linchamentos virtuais se
transformam em linchamentos reais, lembrem-se da mulher assassinada no Guarujá.
Até o endereço do jogador,
em Nápoles, foi descoberto por um desses boçais e publicado na rede, sugerindo
uma ação coletiva para assassina-lo. Isso mesmo, para assassina-lo.
“Ódio aos colombianos”, “só servem para
produzir cocaína” e “negro filho da puta” foram alguns dos impropérios que li
nas redes nos últimos dias. Morro de vergonha de dizer que muitos foram ditos
por colegas de profissão ou conhecidos, pessoas ditas “esclarecidas” e com
seguidores.
Será que se a mesma falta
fosse cometida por um ídolo europeu qualquer a reação seria a mesma? Ou será
que se destapou uma panela que está sempre fervendo, a do desdém ignorante
brasileiro com relação ao resto da América Latina? Arrasta-se por estas terras
que se consideram abençoadas por um “Deus brasileiro” um preconceito que vem da
elite imperial do século 19, aquela que considerava o Brasil um país branco,
uma parte da Europa e que via do outro lado das nossas fronteiras uma terra de
anarquia e barbárie. Mesmo sentimento que identifica a América Latina como
sinônimo de algo folclórico e primitivo, mas que serve de destino turístico
para explorar prostitutas nativas carnudas ou para comprar artesanato exótico.
Parece que um montão de
gente está vendo na Copa do Mundo uma desculpa para soltar sua verdadeira
essência brucutu, machista, racista e, nesse caso, latinofóbica. Obviamente,
reclamam da “patrulha do politicamente correto”.
“Ah, quer dizer que não
posso xingar a presidente (mulher) de vaca? Ou publicar uma montagem que mostre
o Fred como um aleijado? Ou dizer que argentino é fedido? Ou chamar um negro de
‘filho da puta’? Ou colombiano de criminoso? No futebol sempre pôde, então vou
me soltar um pouquinho…”, pensam eles. Natural, não? Imagino que seja mesmo
difícil se fingirem de civilizados todos os dias do ano: respeitar mulheres,
não soltar cantadas intimidatórias, não xingar negros, gays, asiáticos e
latino-americanos. É pedir demais, parece. Segundo sua lógica, o futebol,
afinal, sempre foi cheio desse tipo de ofensa, porque não aproveitar um
pouquinho, se soltar, relaxar e ser bem escroto?
Só que não, não é “tudo bem”
agir assim, nem que seja “só de brincadeirinha, só porque é futebol”. Os
comportamentos violentos nascem desse tipo de raciocínio e modo de ver o mundo.
As injustiças sociais e raciais no Brasil se perpetuam por conta disso. Assim
como o modo como estereotipamos, ridicularizamos e insultamos nossos vizinhos.
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TORCEDORES USAM XINGAMENTOS RACISTAS PARA CRITICAR ZÚÑIGA
No espaço da Extra.globo.com mostra como a vida do lateral colombiano
virou de cabeça pra baixo com as atitudes racistas e violentas do torcedores
brasileiros. Reportagem publicada no dia 05/07/2014, 19:26, apresentando partes
dos vários xingamentos e também a defesa de algumas pessoas da sociedade
brasileira.
Disponível em: http://extra.globo.com/esporte/copa-2014/torcedores-usam-xingamentos-racistas-para-criticar-zuniga-13145832.html#ixzz37476z2cG.
Extra.globo.com
A vida do lateral Camilo
Zúñiga, jogador colombiano responsável pela falta que provocou a lesão em
Neymar, não está sendo fácil. Logo após o jogo, suas contas em redes sociais
receberam uma enxurrada de críticas e xingamentos de torcedores da seleção
brasileira. Boa parte das mensagens destinadas ao jogador são de conteúdo
racista. No Twitter, a palavra mais usada para se referir a Zúñiga foi
‘macaco’, em uma clara tentativa de ofender e diminuir o jogador.
“Aquele macaco daquele
jogador colombiano merece sofrer pro resto da vida dele”, escreveu uma usuária.
“Tudo um bando de macaco esses jogador da colômbia”, compartilhou outra.
Até para pedir uma punição
ao jogador, foi usado conteúdo racista. “Espero que esse macaco da Colômbia
sofra uma punição”. “Copa sem Neymar. Raiva desse macaco da Colômbia”,
escreveram outros dois brasileiros.
APESAR DO RACISMO DE BOA PARTE DA
TORCIDA BRASILEIRA, RAPIDAMENTE O
COMPORTAMENTO PRECONCEITUOSO TAMBÉM
COMEÇOU A RECEBER CRÍTICAS.
Usuários
lembraram o caso do jogador Daniel Alves, atingido por bananas durante um jogo
pelo Barcelona, que resultou na campanha #somostodosmacacos, uma ação
brasileira para pedir o fim do racismo nos estádios.
No início da partida entre
Brasil e Colômbia, um anúncio da campanha #SayNoToRacism (#DigaNãoAoracismo)
foi lido pelos capitães das duas seleções, Thiago Silva e Mario Yepes.
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AMEAÇAS E COMENTÁRIOS
CONTRA ZUÑIGA EXPÕEM PRECONCEITO DENTRO E FORA DO CAMPO
CBF repudiou qualquer forma de racismo dentro e fora do campo. Acesso em 10 de julho de 2014, 09:29h - Disponível em http://www.amambainoticias.com.br/esportes/ministro-exige-providencias-apos-jogador-sofrer-racismo-no-peru |
No espaço ESPORETE < COPA,
a Empresa Brasil de Comunicação (EBC), a WWW.ebc.com.br
com o objetivo de regulamentar o direito constitucional de amplo acesso dos
cidadãos às informações dos órgãos públicos, traz uma reportagem com argumentos
e informações que nos levam a refletir como as redes sociais, podem promover e
sustentar violências e práticas racistas, reportagem feita por Lílian Beraldo,
publicada em 07/08/2014, às 09:11h.
Disponível em http://www.ebc.com.br/noticias/brasil/2014/07/ameacas-e-comentarios-contra-zuniga-expoem-preconceito-dentro-e-fora-do
Por Lilian Beraldo
Logo após a notícia de que o atacante Neymar ficaria fora da Copa do mundo devido à
lesão sofrida durante o jogo do Brasil contra a Colômbia, na última sexta-feira
(4), o jogador Camilo Zuñiga, que alegou que a agressão contra o brasileiro não foi proposital, passou
a sofrer ameaças e a ser alvo de comentários preconceituosos nas redes sociais.
Em alguns desses comentários, ele chega a ser ameaçado de morte.
No Twitter, ao digitar
“Zuñiga” aparece automaticamente como termo associado a palavra preto. Os
comentários, de evidente preconceito racial, classificam o jogador de “preto
desgraçado” e o comparam a “macaco”, “bandido” e “assassino”.
E não apenas o jogador é
agredido. Em uma postagem no Instagram, a Colômbia é chamada de “país da
cocaína”. Em várias fotos da família de Zuñiga, multiplicam-se comentários
ofensivos. Na foto em que a filha pequena do atleta aparece ao lado da frase
“Papi, te amo”, escrita na areia, o jogador é chamado de “animal”. A criança é
ameaçada e chamada de “puta”: “Menina vai ser estuprada”.
Integrante do Instituto
Mídia Étnica, Paulo Rogério critica a postura dos internautas e destaca que a
situação evidencia o racismo da sociedade brasileira. “A situação de racismo,
principalmente no Brasil, onde temos uma falsa ideia de democracia racial, é
quebrada no momento em que há uma tensão, como naquele jogo”, afirma Rogério,
relembrando a partida que terminou com a lesão de Neymar.
Ele destaca, contudo, que
esta não foi a única demonstração de racismo vivenciada no Mundial. “A Copa do
Mundo tem mostrado que esse é um assunto de grande importância porque os casos
de racismo são cotidianos, seja esse caso mais recente contra o jogador colombiano,
no caso dos espanhóis, que chamaram brasileiros de macacos, e em vários casos
de xenofobia”, diz o publicitário, que trabalha no acompanhamento da cobertura
da mídia em relação à questão racial.
Se atos de preconceitos não
são novos, um elemento ajuda as agressões a ganharem forma e a se proliferarem:
as redes sociais. “Muitas vezes, o anonimato e a possibilidade de fala livre
faz com que as pessoas se sintam mais à vontade para falar o que pensam. Tem um
lado positivo, da ampliação da comunicação, mas também negativo, de uma série
de violações de direitos humanos que a gente vê cotidianamente”, alerta.
O advogado da organização
Geledés – Instituto da Mulher Negra, Rodnei Jericó, lembra que casos de racismo
são cotidianos. “Hoje a mídia tem pautado, mas esse tipo de situação sempre
existiu”, destaca. O advogado pondera, contudo, que a exposição dos casos pode
contribuir para a conscientização e também para a responsabilização judicial.
Nas redes sociais não são
encontrados apenas comentários racistas relacionados ao caso. Em muitas
postagens, internautas criticam a postura preconceituosa dos demais, pedem
cuidado e alertam que se trata apenas de um jogo de futebol. Outros cobram que
os jogadores brasileiros se manifestem sobre as agressões, a fim de amenizar a
situação. Diferentemente da campanha “#somostodosmacacos”, lançada pelo próprio Neymar,
em abril, após Daniel Alves ter reagido a um comentário racista na Europa,
ainda há poucas manifestações de personalidades na situação que envolve o
colombiano.
Até agora, a Confederação
Brasileira de Futebol (CBF) e a Federação Internacional de Futebol (Fifa), que
antes do início da Copa do Mundo lançou a campanha #SayNoToRacism
(#DigaNãoAoRacismo, em português), também não se manifestaram oficialmente
sobre o caso.
O procurador federal dos
Direitos do Cidadão, Aurélio Rios, alerta que os comentários racistas podem
terminar na Justiça, já que racismo é crime tipificado no Artigo 20 da Lei
7.716/89, com pena de um a três anos de prisão. “Isso não tem a ver com
liberdade de expressão. É absolutamente inaceitável qualquer discurso de ódio e
violência”, afirma o procurador, que destaca que as pessoas que proferiram os
comentários podem ser denunciadas judicialmente.
Rios avalia que o fenômeno
da internet abriu a porta para um grupo que “estava adormecido e se sente à
vontade, até porque o anonimato da rede facilita que haja essas intervenções”.
O fato de o possível crime ser cometido na rede pode agravá-lo. Isso porque, de
acordo com a legislação em vigor, a pena prevista é de dois a cinco anos de
prisão e multa, quando o crime ocorre por meio de veículos de comunicação.
Aqueles que ameaçaram o
jogador também podem ser incriminados, já que o crime de ameaça é abstrato,
isto é, a ameaça não precisa ser confirmada em ato para que seja considerada
crime, segundo explica o procurador.
Até agora, a procuradoria
não registrou ações impetradas sobre esse caso, mas é possível que o Ministério
Público atue na identificação da origem das agressões e, a partir da
investigação dos fatos, dê início a um processo criminal. Foi o que ocorreu em
2010, quando uma estudante de direito, ao comentar o resultado das eleições
presidenciais, escreveu no Twitter que "Nordestino não é gente. Faça um
favor a SP: mate um nordestino afogado!". Menos de dois anos depois, ela
foi condenada a um ano, cinco meses e 15 dias de prisão pelo crime de racismo.
“A pessoa tem o direito de,
dentro de determinados limites, defender as suas ideias, desde que não ofenda a
dignidade de outras pessoas, sobretudo de grupos vulneráveis”, alerta o
procurador, que lamenta que, em uma Copa do Mundo que teve a luta contra o
racismo como tema, expressões desse teor ainda sejam verificadas.
O governo federal traçou a
meta de fazer uma Copa sem racismo e estimulou a exibição de faixas, nas
partidas, bem como o desenvolvimento de políticas locais de combate ao
preconceito.
No Distrito Federal (DF) e na Bahia, por exemplo, as secretarias de Promoção da Igualdade Racial fizeram campanhas específicas sobre o tema. No DF, cinco postos da campanha “Copa sem racismo” foram montados nas rodoviárias, no aeroporto e em lugares turísticos. “Para poder conscientizar as pessoas que estão vindo sobre a legislação do Brasil e também divulgar o nosso programa, o Disque Racismo”, disse à Agência Brasil o secretário especial da Promoção da Igualdade Racial do DF, Viridiano Custódio.
Na Bahia, a coordenadora-executiva de Promoção da Igualdade, Trícia Calmon, disse que o Centro de Referência de Combate ao Racismo e à Intolerância Religiosa também ficou disponível para o recebimento de denúncias. Além disso, a secretaria fez uma cartilha para informar sobre a legislação brasileira, material que tem sido distribuído em pontos de grande movimentação.
Até agora, contudo, esses equipamentos, tanto no DF quanto na Bahia, não receberam uma denúncia sequer. O descompasso entre o que se vê nas redes e o que se vê nos órgãos é explicado por Custódio como fruto da falta de informação.
Para Trícia, o reduzido número de denúncias do crime de racismo se deve ao “fato de [o racismo] ser muito banalizado e [de haver] a descrença no Judiciário, por conta de morosidade ou porque o sistema tem demorado ou não dado respostas satisfatórias nesses casos”.
DIRETO DA FONTE
GOVERNO DISCUTE AÇÕES PARA ENFRENTAR RACISMO NA COPA DO MUNDO
MARÇO DE 2014 - LUIZA BAIRROS
Ministra-chefe de Secretaria de Políticas de Promoção de Igualdade Racial
POSTADO POR: Maria Margareth Cancian Roldi
Alex Santiago Duarte leite da Silva
REFERÊNCIAS:
COLOMBO. Sylvia. Zuñiga, negro e latino-amerincano, Espaço Latinidades. Folha de São Paulo - um jornal a serviço do Brasil. Publicado em 07 de julho de 2014, às 09:35h. Acesso em 08 de julho de 2014, às 10:25h. Disponível em: http://sylviacolombo.blogfolha.uol.com.br/2014/07/07/zuniga-negro-e-latino-americano/.
EXTRA.Globo.com.Torcedores usam xingamentos racistas para criticar Zuñiga, Página Esporte. Revista Digital Extra.globo.com. Publicado em 05 de julho de 2014, às 09:17h. Acesso em 10 de julho de 2014, às 07:56h. Disponível em: http://extra.globo.com/esporte/copa-2014/torcedores-usam-xingamentos-racistas-para-criticar-zuniga-13145832.html
BERALDO. Lílian. Ameaças e comentários contra Zuñiga expõem
preconceito dentro e fora do campo. Página Esportes / Copa. Portal EBC.
Públicado em 08 de julho de 2014, às 12:43h. Acesso em 10 de julho de 2014, às
08:45h. Disponível em: http://www.ebc.com.br/noticias/brasil/2014/07/ameacas-e-comentarios-contra-zuniga-expoem-preconceito-dentro-e-fora-do.
BAIRROS. Luiza – Ministra –chefe
da Secretaria de Políticas de Promoção de Igualdade racial. DIRETO DA FONTE: Governo discute ações para
enfrentar racismo na Copa do Mundo. Vídeo do Conselho Nacional de Justiça.
Publicado em 13 de março de 2014. Acesso em 10 de junho de 2014, às 09:55h.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=vBk5LwGuBJc
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